quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Ambulância do Samu faz diagnóstico de problemas do coração em 5 minutos

da Folha Online

Mais de mil municípios em todo o país deverão contar com ambulâncias do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) equipadas com um aparelho digital de eletrocardiograma até o fim do ano, segundo o Ministério da Saúde.
Lançado oficialmente nesta quinta-feira pelo ministro José Gomes Temporão (Saúde) e pelo diretor-geral do HCor (Hospital do Coração), Adib Jatene, o Sistema Tele-Eletrocardiografia Digital promete ajudar a salvar vítimas de doenças cardiovasculares graves, como infarto e arritmia. A expectativa é reduzir em até 20% o número de mortes.
Os benefícios diretos dessa tecnologia são a redução do tempo de atendimento, a análise mais apurada do quadro do paciente e a realização de uma triagem ainda na casa da pessoa ou na ambulância, para o encaminhamento mais ágil ao chegar a um hospital, segundo o cardiologista Enrique Pachón, responsável pelo serviço de Telemedicina da parceria entre o HCor e o Ministério da Saúde.
Cada ambulância do Samu será equipada com um pequeno aparelho capaz de transmitir o eletrocardiograma via telefonia celular ou mesmo por telefone fixo. Todo o processo juntamente com o resultado do exame dura, em média, cinco minutos. "Com isso, o médico que está na ambulância já tem condições de iniciar um atendimento com muita brevidade", explica Pachón.
"Quanto mais rápido uma pessoa que sofre infarto for atendida, maior a chance de ela sobreviver sem complicações graves. Essa tecnologia de ponta disponível no SUS permitirá que a população mais carente tenha maior acesso a cardiologistas de referência do país", afirma o ministro da Saúde.
No momento, o serviço está em 37 cidades de dez Estados brasileiros. Por enquanto, 86 kits (com eletrocardiógrafos e telefones celulares) já estão em funcionamento ou em fase de instalação. A previsão é que esse número chegue a 450 até o fim deste ano.
De acordo com o Ministério da Saúde, os investimentos no projeto do Sistema de Tele-Eletrocardiografia Digital são de R$ 6,9 milhões em três anos, aplicados na compra de aparelhos, treinamento de equipes do Samu e manutenção de equipamentos.
Ouça o podcast

Orçamento de 2010 'não atende necessidades da saúde', diz Temporão



Peça orçamentária foi sancionada pelo presidente Lula na terça-feira (26).‘Ministro da Saúde tem que chorar o tempo inteiro’ atrás de recursos, disse.



Robson Bonin
Do G1, em Brasília

O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, afirmou nesta quinta-feira (28) que o Orçamento da União, sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na terça-feira (26), é insuficiente para manter as ações da pasta neste ano. “O orçamento sancionado pelo presidente evidentemente não atende as necessidades do ministério. Já estamos conversando com o ministro Paulo Bernardo (Planejamento) e com o presidente Lula para que possamos ter os recursos para manter todos os programas do ministério”, disse Temporão, durante entrevista ao programa de rádio, "Bom dia, Ministro".
A causa da falta de recursos, segundo Temporão, é a forma como o orçamento da pasta é corrigido. A verba destinada ao ministério é atualizada a partir do cálculo da soma da inflação com a soma do crescimento econômico do país.
“É a correção nominal do PIB (Produto Interno Bruto). Sabemos que o ano passado o crescimento econômico, se não for zero vai dar crescimento negativo. Então, isso afetou a correção do orçamento do ministério”, explicou o ministro. Temporão também lembrou que as “demandas da área são gigantescas”. “O ministro da Saúde é sempre um ministro que reclama da falta de dinheiro. Na Saúde, as demandas são gigantescas e a realidade para atender (essas demandas) muitas vezes são limitadas. Ministro da Saúde é chorão. Tem que chorar o tempo todo atrás de dinheiro”, afirmou.
O Orçamento da União para este ano prevê R$ 66,9 bilhões para o Ministério da Saúde. O valor só perde para o Ministério da Previdência Social (R$ 258 bilhões) e para o Ministério de Minas e Energia (94 bilhões).

Foto: O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, fala a emissoras de rádio no estúdio da Empresa Brasil de Comunicação, durante o programa Bom Dia, Ministro, sobre a estratégia do país para enfrentar a pandemia de influenza A (H1N1) neste ano. (Foto: Elza Fiúza/ABr)

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Saúde: questão de consciência

Roberto Mangabeira Unger *

DUAS QUESTÕES são centrais para a saúde. A primeira é o financiamento do sistema público, o Sistema Único de Saúde (SUS), estabelecido pela Constituição Federal de 1988. Trata-se de um dos maiores avanços jamais conquistados em matéria de políticas públicas na história do Brasil: o compromisso de assegurar acesso universal à saúde de qualidade. O SUS, porém, nasceu com defeito de origem. No momento de sua criação, viu destroçada sua base de financiamento. Desvinculou-se a saúde da Previdência sem que se criasse fonte alternativa para financiá-la. Desde então, capenga de um remendo para outro. É por falta de dinheiro, não apenas por falha de gestão, que esse sistema excelente em seu conceito e arcabouço institucional fica muito aquém do programado. Se a primeira questão é o financiamento, a segunda é a injustiça. Há dois mundos da saúde no Brasil. Um, para cerca de 20% da população, é o mundo dos planos privados. Na média, propicia um serviço de saúde equivalente em qualidade ao de um país europeu relativamente pobre, como a Grécia. O outro, para os restantes 80% da população, é o mundo dos que só têm o SUS. Oferece muito menos, não só por defeito de ideia ou mesmo de gestão, mas também e sobretudo por insuficiência de recursos. O gasto per capita em saúde no primeiro desses dois mundos é pelo menos três vezes o gasto per capita no segundo. Boa parte desse gasto, porém, é financiado, direta ou diretamente, pelo Estado brasileiro, de muitas maneiras que se reforçam. O mecanismo mais importante é o perdão fiscal: dedução tributária para quem paga os planos privados e para as instituições filantrópicas significa o mesmo que financiar o sistema privado com dinheiro do Tesouro. A injustiça encarnada na relação entre esses dois mundos da saúde se traduz em desigualdades de vida e morte, de alívio e sofrimento. Desonra e enfraquece o Brasil. A elite reformadora e republicana que criou o SUS, e que zela por sua integridade, entende que só se deve abordar o segundo problema -o da injustiça- depois de equacionar o primeiro problema -o do financiamento. Grave equívoco. A única maneira eficaz de resolver ambos os problemas é inverter a sequência. Jamais resolveremos o problema do financiamento enquanto não enfrentarmos primeiro, não depois, o problema da injustiça. Enquanto a minoria puder separar a sua sorte da sorte da maioria, separará. O apelo à consciência será fraco demais para derrotar a aliança do egoísmo com a desesperança. Não quer dizer que se deva solapar o mundo dos 20% para soerguer o mundo dos 80%. Significa, isto sim, que se deve começar a organizar o entrelaçamento progressivo dos dois mundos para, com isso, obrigar os 20% a ajudar os 80% em interesse próprio. A estratégia para resolver é abrir vasos comunicantes entre os dois mundos. Algumas medidas, relativamente simples, ainda que politicamente controvertidas, marcariam o início dessa caminhada. Uma primeira medida é começar a diminuir o perdão fiscal: por exemplo, para dois terços do valor atual. Para cada R$ 2 de dedução de Imposto de Renda para pagar os planos privados, R$ 1 -o real poupado para o Tesouro pelo novo sistema- seria usado para financiar o SUS. Uma segunda medida é exigir que qualquer uso do sistema público pelos segurados dos planos privados seja ressarcido por estes ao Estado pelo critério do custo real. Uma terceira medida seria condicionar o acúmulo de capital e de tecnologia nos hospitais privados, quase sempre na base de subsídio do Estado ou de incentivo fiscal, à exigência de dedicar parte do tempo ao atendimento gratuito de usuários do SUS. A quarta medida é promover a organização de unidades, ao mesmo tempo de pesquisa e de atendimento de ponta, que juntem o setor público ao terceiro setor -os hospitais universitários ou autenticamente filantrópicos, que representam, em grande parte do mundo, o que há de mais avançado em medicina. As classes endinheiradas têm fome ilimitada pela medicina mais sofisticada que houver -afinal, todos, ricos e pobres, querem vida eterna. Não se lhes deve permitir satisfazer o anseio sem que todos o possam compartilhar. Criadas brechas nas muralhas que hoje separam, em matéria de saúde, o mundo dos 20% do mundo dos 80%, surgirão pela primeira vez condições para colocar o refinanciamento do SUS no topo da agenda nacional. A minoria terá motivos para lutar pela melhoria da situação da maioria. As conveniências se aliarão às consciências para tornar a pobreza no Brasil menos mortífera do que ela é hoje.

* Roberto Mangabeira Unger é professor titular da Universidade Harvard (EUA), ex-ministro extraordinário de Assuntos Estratégicos (2007-2009) e ex-colunista da Folha.

Fonte: Folha de São Paulo, 24 de janeiro de 2010.

Cobrança de planos de saúde só deve voltar em abril

Agência Estado

São Paulo - O ex-diretor de Desenvolvimento Setorial da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) Leôncio Feitosa reconheceu ontem ter lançado em 2009 um novo sistema de devolução do valor devido pelos planos de saúde ao Sistema Único de Saúde (SUS) sem que o mecanismo tivesse condições técnicas de funcionar. O novo sistema só deverá entrar em operação a partir de abril deste ano, disse o ex-diretor.O ressarcimento dos planos ao SUS, exigido pela lei do setor, determina a devolução ao erário do que é gasto com o atendimento de pessoas com planos em unidades públicas. Porém, conforme revelou o jornal O Estado de S. Paulo ontem, o sistema parou entre março e abril de 2009 por problemas na base de dados do Ministério da Saúde e não voltou. Mesmo sem condições técnicas, em junho de 2009 o governo anunciou um novo mecanismo.?Não invalida. Tínhamos um lado pronto e atraso no outro. Na hora que corrigir, entra no ar. A última previsão era abril?, disse Feitosa ontem. A ANS e o ministério dizem buscar uma solução.

Governo busca solução para poder receber recursos dos planos de saúde

Agência Estado

São Paulo - O Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) debatem, desde maio do ano passado, uma solução para os problemas operacionais que levaram à suspensão das cobranças do ressarcimento ao Sistema Único de Saúde (SUS) de pessoas que têm convênios. O mecanismo visa a devolver aos cofres públicos valores gastos com o atendimento em hospitais públicos. Durante o período, houve envio e reenvio de dados da base do sistema de informações da rede pública, mas sem sucesso. Para o ressarcimento, a agência cruza listas dos nomes de beneficiários dos planos com os das pessoas internadas pelo SUS. No processo de conferência, diz que foram achadas inconsistências nas quantidades e nos valores de alguns procedimentos utilizados pelos clientes de planos - até casos em que, na verdade, o usuário de plano não teria sido atendido no sistema público. Segundo a ANS, os problemas teriam relação com a descentralização do processamento das autorizações de internações pelo SUS. "Temos de ter o cartão SUS para ter o ressarcimento", diz Lígia Bahia, especialista em planos da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O cartão SUS vinculará procedimentos realizados na rede pública ao usuário. Lançado há dez anos, ainda não saiu do papel.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Congresso de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo

O 24º Congresso de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo acontecerá em Campinas, entre os dias 21 e 23 de abril de 2010, no Hotel The Royal Palm Plaza. O evento é organizado pelo Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo (COSEMS/SP) e pela Secretaria Municipal de Saúde de Campinas. Além do Congresso, acontecerá a IX Mostra de Experiências Exitosas dos Municípios.
Serão realizados dez cursos, com os seguintes temas:
01- Atenção Básica e Gestão do Cuidado
02- Contratualização de Serviços de Saúde
03- Controle Social e Gestão Participativa
04- Determinantes Sociais da Saúde e Promoção
05- Gestão das Redes de Urgência
06- Gestão do Fundo e critérios de repasse do Recurso Federal nos 5 Blocos
07- Planejamento e Informação
08- Práticas Integrativas
09- Regulação da Atenção à Saúde
10- Vigilância em Saúde

Mais informações:
http://congresso-cosems-sp-2010.ning.com/

Trabalhos para Mostra de Experiências Exitosas

Temas:
Rede integrada de Atenção à Saúde
• Integração da rede básica de saúde com outros níveis do sistema
• Serviço de urgência integrado
• SAMU integrado na rede
• Articulação entre serviços de Vigilância e Assistência
• Outros
Enfrentando os novos desafios da saúde mental
• Álcool e droga
• Geração de renda e trabalho
• Intersetorialidade
• Serviços e Modelos de Atenção em Saúde Mental
• Outros
Assistência farmacêutica e o uso racional de medicamentos
• Controle de medicamentos
• Adesão à terapia medicamentosa
• Integração com a equipe de saúde – o uso da informação para melhorar a qualidade da assistência
• Humanização do atendimento
• Atenção farmacêutica na rede de saúde
• Outros
Prevenção e controle de doenças
• Hipertensão Arterial
• Diabetes melitus
• Tuberculose
• Hanseníase•
DST/AIDS
• Obesidade
• Saúde da pessoa idosa
• Promoção
• Outros
Complexidade da atenção básica
• Tratamento domiciliar de acamados
• Trabalhos com outras redes sociais de apoio
• Equipes de referência
• NASF
• Experiências no cuidado (pessoas, grupos, comunidades)
• Enfrentamento da violência (ação intersetorial)
• Humanização do cuidado e seus dispositivos
• Outros
Vigilância em saúde
• Ambiental
• Sanitária
• Epidemiológica
• Saúde do Trabalhador
• Outros
Experiências de reorganização de processos de gestão
• Modelos alternativos de gestão de prestadores
• Organização de centrais de regulação
• Monitoramento e avaliação como suporte para gestão
• Experiências em auditoria clínica e analítica
• Planejamento em saúde
• Programação e regulação por linhas de cuidado
• Gestão do Fundo Municipal de Saúde
• Informação como base para o planejamento
• Implantação do Pacto
• Outros
Gestão de pessoas
• Contrato de metas
• Plano de carreiras, cargos e salários
• Avaliação de desempenho
• Educação permanente
• Outros
Controle social fazendo a diferença na implementação do SUS
• Conselhos locais de saúde
• Capacitação de conselheiros
• Participação social
• Ouvidorias
• Outros
Cuidado Hospitalar
• Internação domiciliar
• Humanização do cuidado
• Trabalho em equipe
• Outros

Critérios para apresentação dos trabalhos:
• Trabalhos, inéditos ou não, já realizados ou em realização há pelo menos 06 meses, não cabendo propostas que ainda não iniciaram a sua implantação.
• Podem ser experiências municipais ou regionais.
• Na existência de co-autoria, o prêmio será entregue ao autor identificado como principal na ficha de inscrição.
• Somente poderão se aceitos trabalhos de universidades quando seu desenvolvimento tenha sido em parceria com equipes municipais.Formas de apresentação dos trabalhos
• Todos os trabalhos devem ser apresentados em forma de pôster, conforme instruções detalhadas no site.
• Além do formato de pôster, podem ser utilizadas outras formas de apresentação: vídeos, fotografias, sistema de informação, teatro, dança ou música.
Inscrição dos trabalhos:
As inscrições deverão ser realizadas de 14 de dezembro de 2009 a 19 de março de 2010, por meio de formulário web, que estará disponível na página do COSEMS/SP na internet, www.conasems.org.br/cosems/sp ,através do envio do resumo do trabalho, conforme instruções detalhadas no sítio.
Público Alvo:
Equipes de Secretarias Municipais de Saúde, Conselhos Municipais de Saúde, Colegiados de Gestão Regionais, Serviços de Saúde do SUS.
Data e Local de realização da Mostra:
De 21 a 23 de abril no Hotel The Royal Palm Plaza em Campinas
Normas para inscrição de trabalhos:
Os trabalhos deverão ser encaminhados sob a forma de texto, para fins de seleção nas seguintes especificações:
• Programa WORD
• Máximo (três) 3 páginas, tamanho A4
• Margem esquerda: 3.0 cm, margem direita: 2.0 cm, margem superior: 3.0 cm, margem inferior: 2.0 cm
• Espaçamento duplo
• Fonte “Times New Roman", tamanho 12
Os trabalhos devem apresentar a seguinte formatação:
•Introdução e justificativa, indicando a sua importância no contexto local;
•Objetivos / propósitos;
•Metodologia: caminho percorrido no desenvolvimento da vivência;
•Produtos, o que foi realizado e resultados alcançados;
•Aprendizado com a vivência: facilidades e dificuldades;
•Considerações finais.
•Referência Bibliográfica
Todos os trabalhos deverão ser apresentados na Mostra na forma de pôster (tamanho 130 cm de altura por 90 cm de largura, no formato vertical).Para os trabalhos apresentados em forma de vídeo, teatro, performance, fotos, sistema de informação ou objetos de arte, deve ser informado:
• Vídeo: duração
• Teatro e performance – número de pessoas e duração
• Fotos – tamanho e quantidade
• Sistema de informação – duração da apresentação e sistema necessário para rodar o programa
Mais informações: http://congresso-cosems-sp-2010.ning.com/

A agonia do SUS

Francisco Batista Júnior*

Essas são propostas que têm sintonia com os princípios do SUS e que, se implementadas, podem fortalecê-lo e consolidá-lo


O SISTEMA Único de Saúde e as suas mazelas estão nas manchetes como nunca antes em sua curta história neste país. As filas, as mortes, as carências, os choros, as greves. Mas em nenhuma das manchetes seus grandes feitos são realçados: os milhões de procedimentos, desde os mais simples até os mais especializados, nada chega ao conhecimento da imensa legião de usuários e adeptos e que fazem a inveja de praticamente todos os países do mundo. Para um país marcado pela ação patrimonialista, pelo autoritarismo, pela concentração de renda e pelo uso da doença como forma de enriquecimento, foi muita ousadia a aprovação de uma proposta política universal, integral, democrática e humanista. Com subfinanciamento crônico, deflagrou-se um dos mais violentos ataques jamais praticados contra aquela que consideramos a maior conquista da história recente do povo brasileiro. O SUS foi colocado à disposição dos grupos hegemônicos políticos e econômicos, que se apoderaram da sua gestão e dos seus destinos, promovendo um saque sem precedentes. Nomeações clientelistas e oportunistas fizeram o trabalho. Desmontaram o que havia de rede pública e de componentes estratégicos da atenção primária e especializada. Num segundo momento, promoveram um processo de privatização jamais visto no Estado brasileiro, por meio da sistemática compra de serviços, concomitante à desestruturação do setor público. Em seguida, avançaram na privatização também da gestão do trabalho, por meio dos processos de terceirização de trabalhadores em todos os níveis de formação e qualificação. Mas os inimigos do SUS não estavam satisfeitos. Partiram para o último, definitivo e mortal golpe: o processo de privatização da gerência dos serviços que compõem o patrimônio público, sob a alcunha de "parceria" e "colaboração" com o setor privado. Sempre tivemos claro que uma proposta abrangente, transformadora, ambiciosa e democrática como o SUS só seria viabilizada se ele fosse predominantemente público, por meio de um financiamento adequado, com a prioridade absoluta para a promoção da saúde, com carreira única, gestão profissionalizada e, por fim, democrática por excelência, conceitos que fazem parte do seu arcabouço jurídico. Os adversários do SUS fizeram tudo exatamente ao contrário. Daí os graves problemas que o sistema enfrenta e que são utilizados como argumentos para o golpe definitivo. Vivemos, em consequência de tudo isso, uma grande crise de financiamento, modelo de atenção, relação público-privada, gestão do sistema e de trabalho e controle social, tendo como crise maior e de sustentação geral a de impunidade. O discurso do momento é a necessidade de flexibilizar e tornar mais eficiente e moderna a gestão. E isso só seria possível com a realização de "parcerias" e "colaborações" com o setor privado. Nunca havíamos visto tantos editoriais, entrevistas e discursos nem tanta gente, inclusive alguns que fizeram a reforma sanitária, defendendo com tanta veemência as "parcerias", as "colaborações" e a "modernização do SUS". À revelia da lei, entregam de maneira criminosa a grupos privados o sistema em toda a sua estrutura, num processo que, além de burlar a Constituição Federal, institucionaliza, aperfeiçoa e aprofunda a privatização do Estado brasileiro naquilo que há de mais sagrado: a vida das pessoas. O Conselho Nacional de Saúde cumpre o seu papel de defesa do SUS e da população brasileira e apresenta ao governo e ao Legislativo as propostas: regulamentação da emenda constitucional 29; regulamentação do parágrafo 8º do artigo 37 da Constituição, que trata da autonomia administrativa e financeira dos serviços; regulamentação do inciso V do artigo 37 da Constituição, que trata da profissionalização da gestão; flexibilização da Lei de Responsabilidade Fiscal para a saúde; criação da carreira única da saúde com responsabilidade tripartite; gestão participativa, humanizada e democrática; serviço civil em saúde durante dois anos para todos os profissionais graduados na área; um projeto nacional de cooperação das três esferas para estruturar as redes de atenção primária e de serviços especializados nos municípios em todo o país. Essas são propostas que têm sintonia com os princípios do SUS e que, se implementadas, podem fortalecê-lo e consolidá-lo plenamente.

*Francisco Batista Júnior, farmacêutico, pós-graduado em farmácia pela UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), é presidente do Conselho Nacional de Saúde e servidor do hospital Giselda Trigueiro, da rede do Sistema Único de Saúde do Rio Grande do Norte.

Fonte: Folha de São Paulo

Zilda Arns morreu em missão, como viveu toda a sua vida, diz Temporão

O Ministério da Saúde divulgou uma nota de pesar nesta quarta-feira pela morte da brasileira Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança.
De acordo com a pastoral, Zilda estava no Haiti desde a última segunda (11), para participar de um encontro com religiosos, e morreu em decorrência do terremoto de 7 graus de magnitude que atingiu o país.
Veja, a seguir, a íntegra da nota.
*
"O Ministério da Saúde recebeu com grande pesar a confirmação da morte da fundadora e coordenadora da Pastoral da Criança Internacional, Zilda Arns Neumann, no tremor de terra ocorrido nesta terça-feira (12) no Haiti. A trajetória desta médica catarinense que acolheu como missão de vida a saúde pública é exemplar para todos os brasileiros.
Ao fundar a Pastoral da Criança --entidade que tem o Ministério da Saúde como principal parceiro financeiro desde 1985 e também um de seus principais parceiros técnicos--, Zilda prestou auxílio inestimável para desencadear país afora as políticas públicas de alimentação e nutrição, amamentação materna e controle da mortalidade infantil, entre outras ações de prevenção e promoção da saúde, tão preciosas ao desenvolvimento da infância. Hoje a Pastoral da Criança está presente em 27 países.
'A atuação desta grande mulher e grande sanitarista brasileira foi essencial para elevar a criança a uma condição prioritária dentro das políticas públicas brasileiras', afirmou o ministro José Gomes Temporão. 'Morreu em missão, como viveu toda a sua vida.'
Ao longo das últimas décadas, Zilda Arns Neumann tornou-se uma personalidade emblemática na defesa da saúde, bem-estar físico e mental das crianças e da população brasileira, tendo recebido prêmios nacionais, como a Medalha de Mérito Oswaldo Cruz, conferida em novembro passado pelo ministro Temporão, além de prêmios internacionais.
Era defensora contumaz da criação de uma fonte de recursos permanente para o SUS (Sistema Único de Saúde) e foi conselheira pelos últimos 18 anos do Conselho Nacional de Saúde. Sua atuação também é tida como fundamental para a sustentação de práticas hoje arraigadas no SUS, como o controle social e o cuidado com a saúde indígena.
Zilda Arns Neumann era atualmente coordenadora da Pastoral da Criança Internacional e da Pastoral do Idoso. Estava no Haiti disseminando entre religiosos de comunidades carentes daquele país as práticas exitosas da Pastoral.
Nascida em Forquilhinha (SC) em 1934 e irmã do cardeal-arcebispo emérito de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, Zilda Arns Neumann era médica formada em 1959 pela Universidade Federal do Paraná, tinha cinco filhos e dez netos. Atuou como pediatra no Hospital de Crianças Cezar Pernetta e como diretora técnica da Associação de Proteção Materno Infantill Saza Lattes, em Curitiba (PR), e, posteriormente, como diretora de Saúde Materno-Infantil, da Secretaria de Saúde Pública do Estado do Paraná e do Ministério da Saúde."

Fonte: Folha Online

Obra foi revolução na saúde do País

Redução da mortalidade infantil e avanço no SUS têm a marca de Zilda

Adriana Carranca - O Estado de São Paulo

Zilda Arns Neumann mudou a história da desnutrição no Brasil. De casa em casa, de mãe em mãe, ela ensinou o País a alimentar suas crianças. "Com jeitinho, nós chegamos", dizia a quem lhe colocasse dificuldade. E com seu olhar sereno, voz baixa e sorriso estampado no rosto, a médica pediatra e sanitarista saiu, em março de 1983, batendo na porta dos 14,7 mil habitantes de Florestópolis, então cidade paranaense com maior índice de mortalidade infantil. Recrutou 20 mulheres. Com elas, treinou 76 líderes comunitárias, que formaram outras. E outras. Hoje, são 262 mil. Elas acompanham 1,9 milhão de crianças e gestantes em 4.063 municípios, onde a mortalidade infantil caiu de 127 para 11 óbitos por mil nascidos vivos - ou 91,3%, com uma política de baixo custo e grande alcance. A conquista do Brasil no combate à mortalidade infantil é a da Pastoral, hoje quase um braço do Ministério da Saúde, que transfere verba à organização. Em 2008, foram R$ 36 milhões."A queda da mortalidade infantil no País deve-se muito à ação da pastoral. Quando eu era ministro da Saúde, ela era nossa principal parceira", disse o governador José Serra. "Como indivíduo, ninguém fez tanto pelas crianças. Era uma mulher extraordinária, movida pela fé cristã e conhecedora do espírito de solidariedade." Depois de se espalhar pelos 27 Estados brasileiros, a Pastoral da Criança expandiu as fronteiras e chegou a 17 países. Em 2006, Zilda Arns foi indicada ao Nobel da Paz. "Com o apoio da Igreja Católica e sua penetração, a doutora Zilda criou uma rede de disseminação de informações e ações de saúde e um sistema único de monitoramento das crianças e famílias por voluntárias, o que mais tarde inspirou programas nacionais de agentes comunitários e o atual programa de saúde da família", disse o ex-ministro da Saúde Adib Jatene, que por duas vezes esteve com Zilda no Conselho Nacional de Saúde. O soro caseiro - medida de sal e açúcar, em água - disseminado pela Pastoral da Criança para combater a desidratação por diarreia, então a principal causa de morte entre crianças de até 1 ano, foi incorporado à lista de remédios do Ministério da Saúde. "Quando a reidratação oral foi adotada pela saúde pública no Brasil, as líderes comunitárias da pastoral foram fundamentais para levar a informação sobre o soro às regiões mais carentes porque era consenso, então, até entre pediatras que a criança com desidratação não deveria comer. Mas, não repor sais e água só agravava o quadro", disse José Luiz Telles, do Ministério da Saúde.
ALIMENTAR A ESPERANÇA
Levar informação aos locais mais remotos era um dos maiores méritos da rede formada pela pastoral. A última campanha liderada por Zilda Arns ensina as mães a colocarem os bebês para dormir de barriga para cima. Parece simples, mas, ao contrário da antiga crença popular de que era pior para a criança, a posição pode evitar a morte súbita, principal causa de óbitos de bebês de até um ano nos países desenvolvidos. A médica sanitarista percebeu rapidamente a mudança demográfica no País e criou, em 2004, a Pastoral do Idoso, usando a mesma rede já estruturada nas comunidades. Médicos que trabalharam com Zilda costumam dizer que, mais do que dar comida, a médica tinha a capacidade de "alimentar no outro a esperança" de que era possível mudar, e com atitudes muito simples. Grande parte das voluntárias da pastoral não têm sequer o diploma do primeiro grau mas, com Zilda, aprenderam a salvar vidas. "Criar essa rede capaz de multiplicar o alcance da política ensinando mulheres da comunidade a cuidar de suas próprias crianças e idosos foi algo genial", diz o diretor executivo da Care Internacional, no Brasil, Markus Brose. As voluntárias visitam cada família atendida, pelo menos, três vezes por mês, ao fim do qual se reúnem com a coordenação regional. Todos os dados são registrados em questionários simples e depois processados pela pastoral nacional, o que permitiu criar indicadores para o acompanhamento das crianças no longo prazo. "Zilda criou um sistema de monitoramento da política de fazer inveja a qualquer ONG."
REPERCUSSÃO
Luiz Inácio Lula da Silva Presidente
"Profundamente consternado com a tragédia que atingiu o Haiti, ao qual nos sentimos vinculados fraternalmente em razão da presença da força de paz liderada pelo Brasil, transmito meu pesar e total solidariedade ao povo haitiano e à família das vítimas brasileiras, em especial de Zilda Arns. Que Deus dê conforto a todos neste momento doloroso"
Luiz Paulo Barreto Ministro interino da Justiça
"O Brasil perde a brasileira que sintetiza a palavra solidariedade. Ela deixa a marca do resgate da dignidade em mais de 8 milhões de brasileiros"
Michel Temer (PMDB-SP) Presidente da Câmara
"Ela é um sinônimo de doação, em sua luta pelos carentes, no combate à mortalidadeinfantil e na busca pela melhoria da vida do povo"
José Sarney (PMDB-AP) Presidente do Senado
"O Brasil perdeu uma de suas mais expressivas figuras. Ela era um exemplo extraordinário de dedicação a crianças, pobres e causas sociais"
Aécio Neves (PSDB) Governador de Minas
"Os inúmeros exemplos que ela nos deixa - de solidariedade, responsabilidade compartilhada e amor pelo Brasil - ficarão para sempre"
Armando Monteiro Presidente da CNI
"Seu trabalho humanitário sempre dignificou o País"

Hospitais do interior investem em gestão

Santas Casas buscam gerir melhor recursos e humanizar atendimento
Karina Toledo - O Estado de São Paulo
Santas Casas de vários municípios paulistas estão participando de projetos de aprimoramento da gestão que as auxiliam a administrar melhor os recursos que recebem do Sistema Único de Saúde (SUS) e humanizar o atendimento. Entre as iniciativas, há uma pós-graduação em Administração Hospitalar, consultorias in loco e linha de crédito para informatização."Para cada R$ 100 gastos com o atendimento, o SUS cobre R$ 60. Como entre 60% e 80% dos pacientes das Santas Casas são do SUS, sempre há déficit. Se não houver capacitação do gerente, a situação fica pior", diz Maria Fátima da Conceição, da Federação dos Hospitais e Casas Beneficentes de São Paulo. A instituição oferece desde 2006 uma pós-graduação em Administração Hospitalar para funcionários de Santas Casas. "Já colocamos 160 administradores em hospitais antes geridos por voluntários."Outro programa é desenvolvido em 16 cidades, graças à parceria entre o Hospital Samaritano, a Secretaria de Estado da Saúde e o Centro de Estudos Augusto Leopoldo Ayrosa Galvão (Cealag), da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Em 2009, consultores acompanharam funcionários dessas Santas Casas, ajudando-os a otimizar processos de trabalho e a planejar estratégias para atingir metas de melhoria do atendimento e infraestrutura. "Nossa proposta é que até o fim de 2010 esses hospitais estejam habilitados a passar por algum processo de acreditação, como o ONA (Organização Nacional de Acreditação, uma espécie de ISO para instituições de saúde)", conta Antônio Barbosa, superintendente do Samaritano - um dos seis filantrópicos que assinaram, em 2008, termo com o Ministério da Saúde para projetos voltados à melhoria dos serviços do SUS. "No início, avaliamos os hospitais por um questionário com os critérios da Fundação Nacional da Qualidade, que promove o principal prêmio de excelência em gestão do País. Fizemos recentemente uma nova avaliação e a melhora foi significativa", diz Paulo Carrara, coordenador do programa no Cealag."Neste primeiro ano, a meta era fazer com que essas instituições adotassem pelo menos duas ações da HumanizaSUS (política do ministério para humanizar o atendimento). Isso já trouxe impacto na qualidade", afirma.Os municípios que mais avançaram foram Itapeva, Mococa e Votorantim. Também participam as Santas Casas de Mogi das Cruzes, Palmital, Ourinhos, Mogi Mirim, Lorena e as maternidades de Andradina, São Vicente, Jaú, Lins, Sorocaba e Tatuí. Em Registro, Guarujá, Votorantim e Itapeva, o convênio apoia Santas Casas e maternidades. A seleção foi feita pela Secretaria de Estado da Saúde, que priorizou hospitais que passavam por um processo de informatização graças a uma linha de crédito da Nossa Caixa. Com a melhora da gestão, diz Barbosa, os hospitais passaram a receber mais recursos do ministério, o que possibilitou a compra de equipamentos e modernização.

Cresce procura por terapia alternativa na rede pública

SÃO PAULO - A procura por práticas alternativas na rede pública de saúde cresceu até 358% de 2007 a 2008, de acordo com dados do governo federal. Entre elas estão acupuntura, homeopatia e atividades como tai chi chuan e lian gong. As práticas corporais tiveram o maior aumento, passando de 27,6 mil atendimentos em 2007 para 126,6 mil em 2008. Isso tem gerado mais investimentos no setor.Especialistas apontam que o crescimento está ligado à portaria publicada pelo Ministério da Saúde, em 2006, criando a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC). A norma autorizou terapias alternativas no Sistema Único de Saúde (SUS) e uniformizou os procedimentos. Outro motivo seria o maior número de médicos especializados, permitindo que mais municípios disponibilizem os serviços. Em 2008, 1.340 cidades ofereciam essas práticas gratuitamente.Apesar de algumas das técnicas da medicina não convencional ainda despertarem ceticismo, como a homeopatia, sua eficácia no tratamento de doenças crônicas tem sido cada vez mais reconhecida. Os médicos recomendam a aplicação para pacientes com doenças associadas ou para aquelas com múltiplas causas, como fibromialgia.

Fonte: Agência Estado